segunda-feira, outubro 11, 2010

Novelas, seriados, populices e pessoas

O mundo atual é bem vazio de emoções. Tudo está planejado, seja feita a vossa vontade, essas coisas. E fica no ar aquela sensação de que tudo vai acabar bem, com um final feliz e um sentido.
As pessoas são poupadas de pensar porque já está tudo planejado "ao gosto delas", então não há a necessidade de se desenvolver, apenas utilizar, ah, reduzir, reutilizar, reciclar também está na moda, como se meus saquinho de picolé na praia fossem algo comparado ao petróleo no golfo ou como se o problema não tivesse solução. Obviamente tem solução, é só preciso pensar um pouco. Mas enquanto isso poupe 5L de água fechando sua torneira ao escovar os dentes.

Mas as pessoas têm vontade de aprender, mesmo os que não confiam nas suas capacidades ou aqueles quem queira-se considerar "burro", ou os que nem pensam (fetos? recém nascidos?) já sentem e gostam de sentir... Ao menos é o que dizem por aí. Por isso a mídia é tão importante; ela diz tudo que você precisa saber, bem resumidinho e explicadinho, repetido várias vezes ao longo do dia, caso você não tenha entendido. E até tem uns programinhas "que nem precisa pensar muito" só pra rir mesmo. Melhor do que ficar sem fazer nada, né? Aquele silêncio chato...



Essa novelas, seriados e outras coisas feitas para "darem audiência" seguram as pessoas pela curiosidade e sorrisos fáceis. Ele sabe disso, é um cara esperto, por isso sempre encontra "seu programa favorito".
Olavo é daqueles que adora ver séries, filmes. Não vê muita televisão porque pega tudo pirata na internet mesmo, "bem mais fácil - ele diz, com um largo sorriso - televisão é pra gente burra, novela, essas coisas. Prefiro ver só o que eu gosto, hehehe". Amigo de muita gente devido sua alegria constante. Sabe todas as piadinhas do youtube, é muito engraçado, não tem como ficar sem sorrir ao lado dele. Aqueles caras com que você não fica sem assunto, sabe, troca umas idéias mais sérias também. Notícias, esportes, música. Até de novela ele sabe algo, afinal, só parar 10 minutos por semana no sofá que já entende a novela toda.
Olavo usa todo seu tempo aproveitando sua vida. Claro que ele, trabalha, etc etc, garantir o pão, mas fora isso tá sempre aproveitando a vida. Até fuma uma maconhazinha de vez em quando, tipo, naqueles feriadões, quando vai pra praia. Sempre tem um amigo maconheiro, aê ele entra na roda. Ele não se importa, não é um cara de vícios, sabe fazer suas escolhas na vida. O importante é não ficar sem fazer nada.
Ir ao psicólogo as vezes é bom, uma vez já até tomou um daqueles remédio quando foi ao psiquiatra, mas foi só aquela vez, que tava cheio de problemas e tomou usn remédios, normais, não tem muito do que reclamar. Ultimamente só tem ido ao médico normal mesmo. "Corpo são, mente sã" - brinca ele. Mas na verdade nem se importa muito com isso.
Ele se dá 3 meses de férias por ano, chefe pode essas coisas. Tá namorando uma hippie safadona e ela nem dá bola pro dinheiro dele, ao menos é o que ela diz, mas adora sair pra dançar, beber, enfim, ele nem dá bola, ela é gente boa mesmo e dinheiro é pra gastar. Olavo sabe tudo isso, é um cara bem ligado, por isso teve tanto sucesso.
Olavo saiu de férias pra casa de campo de Odara. "Casa de campo". É só um sitiozinho sem muita coisa, da vó dela ou coisa assim. Quando ele não tava comendo ela, até na grama porque aquilo é realmente vazio, as vezes dava um banda. Não tinha internet, televisão, só pega AM. Saía pra filosofar e começou a pensar sobre as coisas importantes da vida, sobre o que importava pra ele. Viu que não se importava com muita coisa, na verdade quase nada, no máximo se começasse a atrapalhar sua vida (o que é muito difícil na sua posição). Sentiu-se tão bem com esse desapego, mesmo tendo muito dinheiro e sendo visto como "superior" por seus empregados, afinal, conquistou tudo com 26 anos e agora já com 28 as coisas continuam estáveis. "Me senti quase tão feliz como naquela vez que tomei cogumelo contigo, simplesmente não me importo com nada! Só vim pra cá porque tava sem nada pra fazer e queria te falar isso." - disse para Odara. Ela achou divertido e ficou contente, porque estava se sentindo assim mas nem ligava, só que ficou quieta, deu um sorriso e um beijo no pescoço dele - "Andas fumando muita maconha, né?" - ela disse, porque sabe que Olavo ainda tem muito o que aprender sobre não fazer nada.




Ficamos nos enchendo de informações como se precisássemos estar sempre informados. Não reservamos tempo para apenas sentirmos as coisas, fechar os olhos e não se importar com nada. Não estou ignorando a importância da informação, mas refletir é preciso. Engana-se aquele que acha que aprendeu tudo e frustra-se aquele que o tenta. O prazer do conhecimento é saber contemplar aquilo que já se sabe e não se importar em saber por saber, mas apenas para suprir sua curiosidade. Achamos que devemos saber o porquê de tudo, estar consciente a todo instante. Saber o nome das pessoas que conversamos, definir aquilo que sentimos e as notícias sobre lugares que nunca fui nem irei.

Existem coisas que não tem um significado e/ou não serão explicadas. Apenas liberam sensações e nós que resolvemos dar sentido; rir ou fazer qualquer perturbação pra "quebrar o silêncio”.
Resgatar o prazer de como nos sentíamos quando crianças e não apenas lamentar a saudade de um dia "poder não se preocupar com nada". O tal do ócio, né?



Não dá pra ocupar o dia inteiro, se programar demais e ter tudo organizado. Tem momentos que é importante "fazer qualquer coisa", no sentido de até não fazer nada, ficar sentado, parado, olhando, pensando, contemplando, viajando. Não precisamos preencher todos os nossos momentos com coisas pra fazer se já podemos sentir o suficiente pra sermos felizes. Veja o vídeo de novo, mas só viajando nos sentidos, sem palavras, que é como os bebês o vêem.